A vida das grandes empresas brasileiras não será nada fácil em 2009. Além de terem de lidar com perspectivas sombrias trazidas pelos rumos que podem tomar a crise econômica global, há pelo menos um grande desafio a ser perseguido ao longo do ano. Trata-se do início do processo de convergência contábil, que obriga que as companhias de grande porte e as listadas em bolsa divulguem, até o final de 2010, balanços consolidados tendo como base o modelo International Financial Reporting Standards (IFRS, na sigla inglês). Como para fazer a divulgação tem de haver um balanço comparativo do exercício anterior, não há tempo a perder.
De acordo com levantamento elaborado pela Ernst &Young, que tem como base o processo de convergência com companhias européias, nessa primeira fase do processo, os pontos que mais devem levantar dúvidas no Brasil são os que se referem à contabilização dos fundos de pensão patrocinados pelas empresas, da apuração de ágio em fusões e aquisições e o valor considerado justo por um ativo imobilizado. "No balanço de abertura, acreditamos que as empresas brasileiras devem optar por ser mais conservadoras, para não assustar seus investidores", projeta o sócio da área de convergência para IFRS da Ernst, Paul Sutcliffe.
Empresas cujas ações são negociadas na bolsa devem sofrer ainda mais com o dilema entre serem conservadoras ou adotarem de forma mais agressiva as novas regras. Muitas das companhias européias que preferiram a segunda opção registraram quedas de patrimônio líquido. "Os fundos de pensão com benefícios definidos que são mantidos pelas empresas são um caso em que essa escolha terá de ser feita", diz o especialista. Isso significa que as companhias podem optar por transferir os valores - déficits ou superávits - integralmente para os novos demonstrativos contábeis. Outra opção é começar do zero. Com a necessidade da implantação do IFRS, os planos, que trabalham com tábuas atuariais para medir aproximadamente o prazo de aposentadoria e as contribuições médias de seus funcionários, devem sofrer revisões. "É uma das questões mais complexas com que se deve lidar durante a convergência contábil globalmente", admite Sutcliffe.
Adequações individuais
Outra norma que deve impactar os resultados das companhias durante a migração é a que trata das combinações de negócios. As empresas que participaram de fusões ou aquisições não estão obrigadas a ajustar os valores envolvidos até agora no balanço inaugural em IFRS. Entretanto, as que resolverem fazer isso, terão de aplicar o mesmo com todas as operações realizadas a partir de então. "Na Europa, companhias que fizeram cálculos dos ágios de combinações de negócio anteriores à chegada do IFRS apuraram diferenças de até US$ 1 bilhão", detalha o executivo.
Pelo IFRS, os ativos imobilizados, casos de máquinas, equipamentos e imóveis das empresas, terão de embutir em sua contabilidade a depreciação pelo seu tempo de vida útil.
Na avaliação da Ernst & Young, multinacionais como a espanhola Telefônica e a anglo-holandesa Unilever, cujas matrizes já preparam seus balanços utilizando o IFRS, devem ter mais facilidade para a aplicação local.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Luciano Feltrin)
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