NEY HAYASHI DA CRUZ
DENYSE GODOY
Com exportadores trazendo menos dólares para o país e investidores estrangeiros sacando suas aplicações do mercado financeiro, o fluxo de capital externo para o Brasil continuou negativo neste começo de mês. Segundo dados do Banco Central, as remessas feitas para o exterior na semana passada superaram o valor dos ingressos em US$ 656 milhões.
Desse saldo negativo, US$ 213 milhões se referem a operações de comércio exterior -diferença entre as remessas feitas por importadores e pagamentos recebidos por exportadores. Outros US$ 442 milhões correspondem a saídas de transações financeiras.
Os números mostram que, apesar das medidas tomadas pelo BC para estimular os bancos a aumentar a concessão de empréstimos para exportadores, a oferta de crédito para o setor continua restrita, dificultando as operações de comércio exterior. Na semana passada, os exportadores trouxeram US$ 2,363 bilhões ao país, uma queda de 27% em relação à semana anterior.
Parte dessa queda é reflexo da falta de crédito. A negociação de contratos de ACC (Adiantamento de Contratos de Câmbio), uma das modalidades mais usadas no financiamento ao comércio exterior, movimentou apenas US$ 391 milhões na semana passada. O valor corresponde a 16,5% do total de dólares que os exportadores trouxeram ao país no período. Uma semana antes, essa proporção estava em 26,6%.
Subida
Na semana passada, o Banco Central repassou US$ 1,5 bilhão a bancos que se comprometessem a usar os recursos em financiamentos à exportação. Hoje ofertará US$ 2 bilhões por meio de novo leilão.
"O mercado espera que, gradualmente, haja um equilíbrio maior na conta comercial", afirma Mário Paiva, analista de câmbio da corretora Liquidez.
No segmento financeiro, porém, as incertezas são grandes. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que a maioria das operações de alto risco com derivativos contratadas por empresas já foi desmontada, porém os operadores seguem cautelosos. Ademais, as posições compradas dos estrangeiros no mercado futuro de dólar alcançam US$ 12,7 bilhões, o que segura as cotações em um patamar mais elevado do que os R$ 2 que os especialistas apontam como valor mais correto para a divisa neste momento.
Apesar de duas intervenções do Banco Central -uma operação de venda de divisas à vista e dois leilões de "swap"-, o dólar comercial subiu 2,92% ontem, para R$ 2,29. Trata-se da maior cotação em duas semanas.
Desde 1º de agosto, quando chegou ao valor mínimo do ano, R$ 1,559, a moeda já se valorizou em 46,9%. No ano, a alta total é de 28,9%.
Desde o agravamento da crise, o Banco Central injetou US$ 14 bilhões no mercado de câmbio, valor que inclui, além das operações específicas para exportadores, venda direta de dólares para bancos.
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